terça-feira, 10 de novembro de 2009

Os melhores momentos foram com eles<3
















Sempre defini amizade como um aparato de ternura invisível que adorna a alma de dois seres, construindo de certa forma, apenas um. Dizem que amigo de verdade é aquele que não sufoca, não pressiona; aquele que não coloca um torniquete padrão a cada mordida de serpente. Talvez uma das causas de tantos casamentos fracassados seja essa, muitos torniquetes, pouca amizade e muita concorrência.
Eu levanto uma bandeira pelas palavras acima, porém a natureza hipócrita da minha espécie me faz esquecer do que acredito, e por isso, às vezes, sugo todo o veneno do local que sofreu o bote, mantenho a calma, e ainda encontro a cobra, a fim de aplicar o soro correto. Tudo como não deveria sempre ser, e que as cartilhas de primeiros-socorros regem. Ai pode estar o motivo de as pessoas sempre reclamarem da falta de amigos verdadeiros: a inconstância humana. Todos aspiram, poucos se doam, e claro, dentro dessa volubilidade do homem há um paradigma: “os meus anseios são prioridades em relação aos anseios dos outros”, e desse princípio vai se esfacelando potenciais amizades por toda a vida.
É impressionante, em nossos dias, a grande dificuldade do homem de ouvir aos seus pares. Duas pessoas em diálogo parecem, na maioria dos casos, quatro bocas e dois ouvidos. Há uma competição invisível em cada letra pronunciada. Perspectivas, ângulos diferentes, outras formas de abordagem estão extintos. Há quem diga que sempre foi assim e muito pior, acredito nisso, porém não está melhor, está revestido, a sociedade aprende a ser politicamente correta, somos todos exímios habilidosos na aplicação de torniquetes, e quando não sabemos, improvisamos, moldamos, não perdemos a linha e senso.

Como falei, “dizem”. Claro que há polêmica, e há de se achar gente que pense que amigo é aquele que segue regras enumeradas que trazem conselhos prontos nos rodapés de cada página do regulamento. E, como em todo o conceito, não há verdade eterna, o respeito é o ingrediente principal dessa rebuscada receita. Sem ele não conquistamos novos amigos.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

A morte devagar {por:Martha Medeiros}

Morre lentamente quem não troca de idéias, não troca de discurso, evita as próprias contradições.

Morre lentamente quem vira escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajeto e as mesmas compras no supermercado. Quem não troca de marca, não arrisca vestir uma cor nova, não dá papo para quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru e seu parceiro diário. Muitos não podem comprar um livro ou uma entrada de cinema, mas muitos podem, e ainda assim alienam-se diante de um tubo de imagens que traz informação e entretenimento, mas que não deveria, mesmo com apenas 14 polegadas, ocupar tanto espaço em uma vida.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pingos nos is a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não acha graça de si mesmo.

Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio. Pode ser depressão, que é doença séria e requer ajuda profissional. Então fenece a cada dia quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem não trabalha e quem não estuda, e na maioria das vezes isso não é opção e, sim, destino: então um governo omisso pode matar lentamente uma boa parcela da população.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projeto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe. Morre muita gente lentamente, e esta é a morte mais ingrata e traiçoeira, pois quando ela se aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados para percorrer o pouco tempo restante. Que amanhã, portanto, demore muito para ser o nosso dia. Já que não podemos evitar um final repentino, que ao menos evitemos a morte em suaves prestações, lembrando sempre que estar vivo exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar.

Mude'

Mude,
Mas comece devagar, porque a direção é mais importante
do que a velocidade.

Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa.
Mais tarde mude de mesa.

Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho, ande por outras ruas, calmamente,
observando com atenção os lugares por onde você passa.
Tome outros ônibus.

Mude por uns tempos o estilo das roupas.
Dê os teus sapatos velhos.
Procure andar descalço alguns dias.

Tire uma tarde inteira para passear livremente no campo,
ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos...
Veja o mundo de outras perspectivas.

Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda.
Durma no outro lado da cama... depois,
procure dormir em outras camas da casa.

Assista a outros programas de tv, compre outros jornais...
leia outros livros.
Não faça do hábito um estilo de vida.

Ame a novidade.
Durma mais tarde.
Durma mais cedo.

Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua.
Corrija a postura.

Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes,
novos temperos, novas cores, novas delícias.

Tente o novo todo dia.
O novo lado, o novo método, o novo sabor,
o novo jeito, a nova vida.
Tente.

Busque novos amigos.
Almoce em outros locais, vá a outros restaurantes,
compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo, jante mais tarde ou vice-versa.

Escolha outro mercado... outra marca de sabonete,
outro creme dental... tome banho em novos horários.

Use canetas de outras cores.
Vá passear em outros lugares.
Ame muito, cada vez mais, de modos diferentes.

Troque de bolsa, de carteira, de malas, troque de carro,
compre novos óculos, escreva versos e poesias.

Jogue os velhos relógios,
quebre delicadamente esses horrorosos despertadores.
Abra conta em outro banco.
Vá a outros cinemas, outros cabeleireiros,
outros teatros, visite novos museus.

Mude.

Lembre-se de que a Vida é uma só.

Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as.
Seja criativo.

Grite o mais alto que puder no espaço vazio.
Deixem pensar que você está louco.

Aproveite para fazer uma viagem despretensiosa,
longa, se possível sem destino.

Experimente coisas novas.
Troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.

Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas piores
do que as já conhecidas, mas não é isso o que importa.

O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia.
A positividade que você está sentindo agora.
Só o que está morto não muda!